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É um facto, a sociedade lusitana tende a pensar no acessório do momentâneo e, em particular, na Capital, há quem se esqueça de que a maioria da população deste país nem sequer tem um transporte a menos de 3 quilómetros da porta de casa e, no entanto, também paga impostos. Mas isso serão outros quinhentos, serve só para alertar para o drama existencial de o metropolitano parar meia dúzia de horas.
Posto isto, no essencial, a sociedade portuguesa, tende a não olhar para os outros, os outros são autómatos que devem estar prontos a funcionar sob qualquer circunstância. Aos outros tudo é exigido mas a cada um nada se impõe no sentido de terminar com o marasmo económico-financeiro, social e cultural e com a galopante perca do conceito de valores cívicos, éticos, morais e de convivência em sociedade.
"Câmara de Lisboa compromete-se a ponderar outras medidas antes de optar pela segregação das bicicletas e vai deixar de construir ciclovias sobre os passeios" In: Jornal Público
Noticía o Jornal Público que a Câmara de Lisboa vai realizar obras nas avenidas da República e Fontes Pereira de Melo para melhorar a segurança dos ciclistas, numa altura onde se tem debatido o problema da falta de civismo de condutores e ciclistas, é uma boa notícia saber que no país se começa a olhar com preocupação para a realidade dos utentes das vias públicas, sejam eles peões, ciclistas ou condutores.
Passando hoje de novo na Avenida da Liberdade lembrei-me do paradigma meu, Lisboa e Porto são, a seguir a Tomar, duas das cidades portuguesas que mais gosto, Lisboa e Porto contrastam-se entre si, mas ambas contrastam com Tomar, a cidade nabantina deve ser apreciada de dia, ao passo que em Lisboa e no Porto, prefiro de longe admirá-las de noite.
E subindo a Avenida, lembrei-me, deu Tomar tanto a Lisboa e ao país, que até a sua capital, bom quinhão foi edificado por construtores tomarenses, que pensaria Tomar, sede da ordem que financiou os descobrimentos e em última instância financiou a nossa nação e a lusofonia no mundo inteiro. Custa a crer, mas a sede administrativa que deu mundos novos ao mundo, foi, de facto, em Thomar.
Por isso imaginei o que diria Tomar a Lisboa:
Imagem retirada aqui: http://www.instituto-camoes.pt/revista/revista15p.htm
Lisboa não se conhece em meia dúzia de passeios, leva tempo.
Quem me conhece sabe que não é de hoje a minha predilecção por passeios a pé pelo coração das cidades, e se esse passeio for num centro carregado de história, arquitectura e paisagem onde se mistura o tradicional com a modernidade bem regado de luz sob o manto escuro da noite, tanto melhor. Aliás, Lisboa a meu ver tem tanto para ver de dia como tem de noite e, em ambiente recessivo, é possível passar o tempo sem gastar dezenas de euros, de facto, e não que eu gastasse dezenas de euros, em Tomar sair à noite representa, quase que a cem por cento, ir a um bar ou café que se estende para lá do horário habitual, com uma agravante, a oferta é escassa, pelo que sair à noite para admirá-la, também devido à sua dimensão, resume-se a uma ou duas horas de passeio.
Lisboa não, é certo que a zona do Cais do Sodré ao Bairro Alto e Chiado, sem esquecer a Rua Augusta e subindo até à Avenida da Liberdade, portanto a Baixa Lisboeta, oferecem muitas e variadíssimas ofertas, para todos os gostos e obviamente para todas as carteiras. Confesso que os meus gostos até se poderiam mesclar com os da oferta, mas seguramente a minha carteira não, qual troika qual quê, aqui só saem cêntimos de cada vez, temos que poupar.
Não sei se repararam, mas amanheceu em Lisboa, se bem que o Sol só agora se está a mostrar.
Foto: http://santoamaro110.blogspot.pt/2010/12/o-inicio-de-um-dia-com-muita-accao-para.html
Um dia disseram-me que devia sair do meio onde estava, que devia procurar novos horizontes e novas oportunidades, que em Tomar, cidade que me viu nascer e crescer, já não oferecia nada e que se quisesse singrar na vida devia rumar a outras paragens. É uma afirmação tentadora, especialmente para quem nunca se tinha visto a extravasar os limites do concelho, a minha zona de conforto e, esta mudança, para mim que sempre estive ligado à cidade que me acompanhou toda a vida, não é algo que se tome de ânimo leve porque quem parte de um sítio onde até as pedras da calçada lhe conhecem a sola do sapato sente sempre uma grande dificuldade em optar pelas ruas que sempre conheceu e aquelas que terá que enfrentar.
Imagem retirada aqui: http://olhares.sapo.pt/lisboa-cinzenta-foto1032049.html