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Desde a revolução industrial, iniciada durante o século XVIII em Inglaterra, que o principal sistema económico da idade moderna tem vindo a ser desenvolvido com base no dogmatismo pragmático do risco económico e na orientação prática em torno do binómio risco-rentabilidade, donde quanto maior for o risco maior a rentabilidade e, por consequência, maior a probabilidade de falhanço do investimento inicial. Este princípio está intrinsecamente ligado à convenção de que a remuneração do capital está intimamente ligada ao coeficiente de risco da opção tomada, por conseguinte a prática generalizada é a de que quem tem mais capital estará mais predisposto a correr riscos financeiros e aqueles que não o possuem estão confinados à baixa rentabilidade. Isto porém em termos excessivamente académicos e que não levam em conta factores de ordem ética, social e política.

 

Desta forma o sistema evoluiu para um liberalismo económico sem qualquer remuneração que há medida que a concorrência perfeita, aquela onde todos os agentes económicos têm sensivelmente o mesmo tamanho e oportunidades, se foi perdendo, degenerando, em alguns casos, em monopólios e oligopólios, face a este cenário o risco inerente à actividade começa a poder ser tomado pelas grandes fortunas pessoais, quando existiam, e agora pelos grande grupos económicos, por outro lado, a banca que lida com a tentativa de alavancagem dos agentes económicos bem como do investimento, em teoria, sustentável, tomou a dianteira no que à condução económica financeira diz respeito, de facto, poder-se-á dizer que as quebras e crises cíclicas das flutuações financeiras quase sempre têm, se não como agentes desencadeadores, mas pelo menos como potenciadores a banca, é a ela que a economia recorre para se financiar e crescer e, igualmente é a ela que recorre quando o ciclo de vida da empresa está afectado, obtendo financiamento não para investimento mas ultimamente para se manterem, ora, a banca é ela própria uma actividade económica, uma actividade que como todas as outras visa o lucro e, no auge económico a liquidez geral e o potencial de crescimento económico propicia a oferta de crédito de baixo custo, o crédito contraído a baixas taxas de juro, porém, sabendo nós que os mercados são dinâmicos e que a economia é um ciclo com altos e baixos, invariavelmente a alavancagem financeira da economia dá uma ideia de saúde global acima da realidade, no final observa-se uma contracção da economia que ocorre no ponto de saturação do ciclo económico, quando a ideia de risco aparente é inferior ao risco real.

 

Num mercado altamente desregulado e ultra-liberal, o risco de desvalorização do risco real é elevado, a banca concede créditos em demasia e o mercado reagem em crise, de facto a crise de 1929 é um bom exemplo, o clima de euforia do crescimento da economia alimentada pela falta de regulação e experiência de crises graves levou a um ponto extremo que paralisou o sistema capitalista no seu princípio mais básico que é o do investimento indirecto, de um momento para o outro as empresas deixavam de ser rentáveis pelo simples facto de inundarem os mercados de produtos, a produção excessiva e acumulação de existências revelaram-se fatais, pura e simplesmente a saturação do mercado trouxe a não rentabilidade das empresas e com ela a quebra do seu valor mobiliário. A grande recessão, iniciada em Julho de 1929 conhecia o seu pior dia quando o pilar fulcral da economia, a bolsa de valores, reflectia a quebra da rentabilidade, colapsando assim o edifício geral da alavancagem da altura, o investimento indirecto por meio de títulos bolsistas, as quebras financeiras reflectindo a desvalorização dos títulos e acções retirou o poder do capital, a base do sistema, com ele, a banca ficava desprotegida e sumariamente todo o sistema capitalista.

 

O liberalismo é portanto uma ideia enganadora, um pretenso ideal de liberdade financeira, mas que propicia as debilidades endémicas das economias nacionais na medida quem a falta de reguladores leva ao total desgoverno da actividade económica, tal como o período pré-1929, e pior ainda, quanto maior for a escala económica, maior o risco de monopólios económicos com prejuízos tecnológicos das populações.

Actualmente e, mesmo perante a existência de organismos regulatórios, continuam existir casos de total falta de regulação, o subprime norte-americano, os casos das empresas financeiras como a AIG, intervencionada, Madoff, as crises imobiliárias, entre outras. Estas falhas detonaram ou pelo menos fizeram escalar o clima de crise actual, com a banca, que antes concedia crédito desenfreado e que agora se vê descapitalizada, a não ser capaz de fortalecer a economia em fase de estagnação ou mesmo recessiva, pondo em perigo todo o sistema financeiro, o BPN e BPP, casos portugueses de falta de rigor regulatório, por outro lado.

 

Infelizmente a falta de rigor económico e financeiro também existe e em grande medida concorre para o definhamento do aparelho financeiro bancário, a falta de liquidez dos estados implicam perca de capital na banca, o capital concedido a crédito, o caso Dexia é um flagrante exemplo, exposto à dívida grega. Somando todas estas variáveis vemos no horizonte um futuro sombrio, por uma lado, o ciclo recessivo acompanhado pela descapitalização dos instrumentos financeiros, por outro lado, os estados que se deixaram endividar grandemente por longos e contínuos períodos, esmagados e colocados contra a parede pela banca que, devido ao aparente risco inerente, eleva e exige uma remuneração mais elevada pelo capital concedido às dívidas soberanas. Esse risco é aparente e irreal já que quanto maior for o risco aparente financeiro mais dificuldade terão os estados em se financiar e financiar a economia, assim, quanto maior for essa dificuldade maior será o risco aparente financeiro. Esta espiral tende a baixar a rentabilidade económica (que pela teoria clássica tem maior risco) e a potenciar a insolvabilidade geral.

 

Uma coisa é certa, os activos tendem a estagnar ao passo que os passivos tendem a aumentar, no final, a saturação da capacidade de solvabilidade ditará quem (empresas e estados) sucumbirá primeiro e revelará os canais receptores do capital (os grupos e estados que emergem e enriquecem à conta da crise económica), isto é, os detentores do capital inicial anterior à própria recessão e mais predispostos ao risco, no fundo, a velha máxima de que os pobre empobrecem e os ricos enriquecem.

 

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