"Nós estamos aqui a dormir, algumas desde dia 1 [de Março], (...). Pusemos aqui [à entrada do Pavilhão Atlântico] as nossas mantas e as nossas malas (...). Tentamos arranjar aqui um cantinho para dormirmos (...)"
"Tenho seis tatuagens para ele. (...) Tenho 15 anos."
É esta a geração que daqui por cinco anos irá ser a força activa do país, ou pelo menos, parte dela?
Quando se debate o estado do ensino em Portugal, os métodos pedagógicos, as técnicas e as condutas aplicar no seio da comunidade estudantil, o que resta da tradicional função familiar de educar as crianças para a vida? O que andam os pais a fazer para incutir nos filhos o sentido da responsabilidade, dos limites e mesmo da decência?
O Estado gasta hoje uma grande soma a "formar" gente desprovida dos mais elementares ensinamentos, e não estou a falar das matérias curriculares, falo da formação social do indivíduo para a responsabilidade. A verdade é que uma grande parte dos jovens, não tem a mínima noção da mediocridade, do ridículo a que se expõe, de até onde podem ir os limites da decência e da honra da sua própria imagem, desconhecem que no futuro, desaparecerão os alicerces paternais que sustentam toda a mascarada que se lhes permitiu viver, como se estivessem seguros pela mão protectora dos progenitores.
E que mão é essa? Que pais ou mães permitem que a sua filha de 15 anos faça uma tatuagem, algo íntimo que dura para a vida e quase irreversível, de um ídolo juvenil, que o mais certo é nem durar mais do que cinco anos, o tempo necessário para amadurecer, ou pelo menos tentar, que pais permitem isto?
A apelidada geração "Morangos", trouxe uma nova e perigosa concepção de estilo de vida baseada na permissibilidade cega e sem critérios, tudo é desculpável, os erros grosseiros e por vezes até a falta de respeito, com ela veio a queda acentuada dos valores morais, éticos e sociais, veio a ténue sensação de conforto nos mais jovens que não são preparados para o futuro, fora da alçada dos pais.
Em que país viveremos daqui a 20 anos?
Costuma-se dizer que a geração seguinte procura sempre dar mais aos seus filhos do que receberam dos seus pais. Contudo, a geração que se começa extrair do fins da década de 90 do século passado e inícios deste novo milénio, receberam de mais, ou melhor dizendo, de menos. Receberam um mundo super protector que se ria com os disparates juvenis e, achando-se em graça, não os repararam. Está à vista uma situação alarmante, em breves décadas, estaremos a braços com um país a duas realidades, aqueles manifestamente impreparados que terão que se sujeitar a tudo e aqueles que receberam, por sorte, uma educação que os preparou, dominantes. Não assistiremos a uma luta de classes, assistiremos a uma desigualdade formativa, não de escolaridade, mas de valores.
Tenho alguma apreensão quanto a isso. Num mundo cada vez mais agressivo e competitivo, como irão singrar? Já vimos o resultado de anos de facilitismo escolar, se lhe somarmos a falta de competências humanas e cívicas, o que restará?
No fim de contas, de quem é a culpa? Não é deles, essa juventude que não foi educada correctamente, a culpa é dos "papás" que pensaram que a escola era local de ensino dos valores morais, a culpa é toda uma geração que prostrou nos filhos a contestação ao ensino austero familiar e, que, estupidamente, passaram para eles aquilo que seu subconsciente se consideraram vítimas, a imposição de regras. Mas numa numa sociedade ninguém vive sem elas.
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