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Um dia disseram-me que devia sair do meio onde estava, que devia procurar novos horizontes e novas oportunidades, que em Tomar, cidade que me viu nascer e crescer, já não oferecia nada e que se quisesse singrar na vida devia rumar a outras paragens. É uma afirmação tentadora, especialmente para quem nunca se tinha visto a extravasar os limites do concelho, a minha zona de conforto e, esta mudança, para mim que sempre estive ligado à cidade que me acompanhou toda a vida, não é algo que se tome de ânimo leve porque quem parte de um sítio onde até as pedras da calçada lhe conhecem a sola do sapato sente sempre uma grande dificuldade em optar pelas ruas que sempre conheceu e aquelas que terá que enfrentar.
Tomar é uma cidade mágica, mesmo que não fosse de lá, diria que é a mais bonita de Portugal e eu amo-a, venero-a, sinto tristeza pelo estado em que está, que não oferece futuro aos jovens que são obrigados em grande escala a saírem, assim, lembro-me de todo o percurso que fiz de escola em escola à medida que os anos passavam, lembro-me de como via com alguma apreensão mas com a vontade própria de adolescente o facto de ir fazer o superior para fora de Tomar, mas era sempre na base de ir e voltar, porque o futuro logicamente teria que ser cá, existia a ilusão de que haveria espaço para continuar cá e, no fundo é o desejo de qualquer pessoa digo eu, quem gosta da terra onde nasceu quer assentar cá a sua moradia, contribuir para o seu desenvolvimento. Era assim que via o futuro, mas os anos passaram e ingressei no Politécnico de Tomar, não saí, a mesma razão de tantos outros colegas continuava válida e incrivelmente imperiosa, estudar sai caro e eu sei que é um investimento, mas não havia condições para sair.
Hoje, quatro anos depois dessa ilusão, estou em Lisboa, vim fazer o meu estágio, vim à procura de alguma coisa, mas não estou cá, porque alguma vez alguém me disse que devia procurar os tais horizontes, porque hoje olho para o país e esses horizontes são tão sombrios como a noite escura. Não é bem verdade, a verdade foi que vim para cá, sim porque Lisboa representa uma esperança de futuro, mas também vim porque a vida não é são só bens materiais, vim atrás da componente que todos nós procuramos, vim porque amo. Não tenho vergonha de o admitir, deixando de parte os moralismos pró e contra-romantismo, a verdade é que quando ela apareceu na minha vida, ironia do destino, em Tomar, foi como se um outro objectivo se levantasse e quantas vezes pensei que a felicidade estaria condicionada pelos tais "horizontes".
Parece tão fácil, e era fácil, acabar o estudo, namorar partir em busca de emprego e da felicidade e tudo estava encaminhado num único destino, Lisboa. Para mim, quando cá cheguei Lisboa não era só a capital, o cosmopolitismo, a segurança de encontrar trabalho ou projectos de vida, era sobretudo uma Lisboa colorida que irradiava futuro completo, mas não há bem que sempre dure, e Lisboa perdeu a cor, transformou-se numa qualquer cidade que não me diz muito, poluída e cinzenta, triste e solitária.
É verdade, o meu problema foi que olhei Lisboa como a cidade do meu amor, não olhei Lisboa como a cidade do meu futuro, vim para cá em grande parte por causa de uma rapariga, que amo, que me amava, que eu penso que ainda me ama apesar de tudo, no fundo deixei Tomar para vir chorar em Lisboa.
Imagem retirada aqui: http://olhares.sapo.pt/lisboa-cinzenta-foto1032049.html