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Acordo com o sentimento de que poderia fazer alguma coisa. É certo que poderia, mas não o fiz e, todos aqueles que como eu não o fazem hão-de chegar a esta mesma conclusão. Acordamos todos com a ideia de não fizemos algo, não fomos além. Não nos excedemos, nada! Que sina a de levantar todos os dias com a única sensação de que andamos a deambular, passo a repetição, rumo ao nada, ao vazio, ao inerte, andamos num passo estacionário que nos desprende da liberdade. Confuso? Não, apenas andamos todos com as ideias soltas, sem amarras e carregadas de vícios.
- Não fazes nada, malandro. Vai trabalhar!
- Deixa-me em paz!!! Não vês que estou ocupado…
Ocupado? Não, quanto muito estarás a ocupar alguma coisa, o vazio talvez. Por acaso, alguém alguma vez pensou em ocupar o vazio? Filosoficamente falando é, claro, gritar ao silêncio para que se cale. Raios! Já não te suporto ouvir, quem me dera que tu morresses.
- Escuta-me que sou o silêncio que te invade de som na planície cravejada que é a tua mente, não tens vergonha? Vai à janela, olha com que calma harmoniosa se prendem as pessoas à azáfama diária, só tu, parvo de espírito, só tu é que estás a falar aqui comigo.
Detesto o silêncio que não fale comigo… Ajuda-me sempre tanto, vi-o nas doces palavras que braviamente me zuniam nos ouvidos, mas que fazer? Um dia, mato o Silêncio para que por fim se silencie.
- Não tenho vergonha? Parvo és tu, aprecio-te tanto ó Silêncio, mas aprecio-te mais quando não dizes nada, é claro que tenho vergonha. E te digo mais, meu companheiro, tenho mais vergonha de não a ter!
Eis senhores, que aqui vos trago a este Auto-da-Fé, o réu confesso cujo crime é não fazer nada mas que ao mesmo tempo faz tudo aquilo que não deveria fazer. Traz consigo o silêncio como advogado e que o mesmo é acusatório, defensor e juiz deste Auto.
Ora digam lá, se o mesmo se não passa convosco? Sem medos! Não deverei ser o único a sentir-me assim, vendo sem ver, sentindo sem sentir e, também, esperando sem esperança. Porém, digam, aqueles que como eu acordam com o sentimento de que poderiam fazer alguma coisa, se o nosso castigo não é maior do que o nosso crime?
Ainda assim, vos digo que numa primeira fase, penso que vou mudar o mundo, numa segunda fase já acho que o posso mudar, na terceira fase coloco isso em dúvida, mas na última fase, digo que, independentemente das fases anteriores, vou ser teimoso, negarei a terceira, duvidarei da segunda e, no final, implementarei a primeira!